O
governo lança hoje uma rede de serviços para vítimas de violência que
inclui orientação profissional, para garantir a independência da mulher
As
brasileiras já contam com um marco legal de enfrentamento à violência
saudado pela Organização das Nações Unidas como uma das legislações mais
avançadas do mundo, a Lei Maria da Penha.
Temos
ainda a Central de Atendimento à Mulher Ligue 180, o Pacto de
Enfrentamento à Violência com Estados e Municípios, a indenização
regressiva (por meio da qual os agressores são obrigados a ressarcir ao
INSS as indenizações pagas pelo Estado às vítimas ou a seus
dependentes), o 2º Plano de Combate ao Tráfico de Pessoas e os centros
especializados de fronteira.
Faltava consolidar a rede protetiva que integrasse os serviços e qualificasse o acesso. Não falta mais.
A
presidenta Dilma, que falou firme com os agressores ao deixar claro no
seu pronunciamento no Dia Internacional da Mulher que a maior autoridade
neste país é uma mulher, lança hoje, no Palácio do Planalto, a Rede
Integrada de Atendimento às mulheres vítimas de violência de gênero.
Fecha-se, assim, o círculo virtuoso de atendimento que aponta para a redução dessa pandemia social.
Essa
rede oferecerá todos os serviços já disponíveis, atualmente dispersos, e
outros tantos novos, a partir de agora de forma integrada. Estarão
reunidos num mesmo prédio, especialmente desenhado para um acolhimento
respeitoso e que será implantado inicialmente nas 27 capitais, desde que
os governos estaduais adiram ao plano.
Nesse
prédio, do Centro Especializado Integrado de Atendimento às Mulheres em
Situação de Violência, funcionarão as delegacias da mulher, as
defensorias, os juizados ou varas, as promotorias, defensorias e os
serviços de assistência psicossocial.
Os
serviços de saúde e de assistência social (centros de assistência
social, de acolhimento e abrigamento) e o Instituto Médico Legal serão
integrados aos centros por um fluxo de transporte que os ligará na
medida da necessidade das vítimas.
A
novidade é que a esses se somam a orientação para o trabalho, emprego e
renda e o espaço de recreação para as crianças que acompanharem as
mulheres.
Ou
seja, as atendidas nessa rede disporão não mais apenas de uma porta de
entrada, mas também, a partir de agora, de um acompanhamento integral e
de uma porta de saída.
A
porta de entrada poderá ser pelo Ligue 180, pelos serviços de saúde ou
pelas delegacias da mulher. Com a rede integrada, a vítima passa a
encontrar em um mesmo espaço todos os serviços de uma só vez, em vez de
peregrinar em busca de cada um deles.
Outra
vantagem da rede é o acompanhamento integral. Muitas vezes, a mulher
sente medo e vergonha e demora até tomar a decisão de procurar um desses
serviços. E, por dificuldades de acesso aos demais, atualmente
dispersos em diferentes pontos das cidades onde vive, ela nem sempre
retorna. Então, o serviço a perde. Uma das consequências tem sido,
algumas vezes, a notícia de mais uma mulher assassinada. Assim, um
serviço muito importante no centro é a recuperação da dignidade cidadã.
Garantir-se
a defesa e a segurança e cuidar dos ferimentos causados na dignidade
das vítimas é fundamental, mas não basta. É necessário um passo adiante.
Isso porque essa mulher precisa tomar ou retomar em suas mãos a
condução de sua vida e sua condição de sujeito de direitos.
É
por isso que, no espaço da rede integrada dos serviços públicos, haverá
a orientação e qualificação profissionais. Essa será a porta de saída.
Com
mais esse investimento nas cidadãs, o governo federal comprova sua
obsessão em eliminar a desigualdade de gênero na sua faceta mais cruel.
ELEONORA MENICUCCI, 68, é ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
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artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua
publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas
brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do
pensamento contemporâneo.Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/98291-basta-de-violencia-contra-a-mulher.shtml
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