São mães e esposas dos presidiários que, todo fim de semana, visitam seus familiares presos.
Conversamos com duas delas. Mães de
jovens aprisionados na penitenciária de Igarassu, Pernambuco. Detidos,
segundo elas, quando a boca onde eles compravam drogas caiu.
Enquanto falavam dos filhos, seus olhos se enchiam de lágrimas, relatando o sofrimento por que passam diante da situação.
Impotência e dor são as palavras que
pronunciam quando perguntamos qual o sentimento delas, como mulheres e
mães, por terem seus filhos presos.
Seus filhos começaram a se envolver com
drogas aos 12 e 14 anos. Meninos que não tinham luxo, mas que não
passavam fome; filhos de mães trabalhadoras, separadas, que
reconstituíram suas famílias com novos parceiros, mantendo uma relação
de amor e carinho com os filhos.
“Jamais abandonaria meu filho; mãe que
ama jamais abandona o filho…” – dizem, quase uníssonas, Simone e
Dolores, moradoras de Peixinhos, lutadoras pelo direito à moradia digna,
militantes do MLB.
Apesar dos relatos de rejeição, de serem
apontadas pelos vizinhos e familiares como mães de drogados, de levarem
a culpa pela situação dos filhos, encontram força para superar o
preconceito da sociedade, que não só discrimina os presidiários e
ex-presidiários, mas também seus familiares.
Na sociedade em que vivemos, elas têm a
responsabilidade de cuidar dos filhos, dos doentes e dos idosos da
família, e são declaradas culpadas por todos os erros de sua prole.
“Muitas pessoas deixaram de conviver conosco, como se tivéssemos uma
doença contagiosa; algumas de nós perdem os empregos quando os patrões
ficam sabendo que somos mães de detentos”.
Simone e Dolores têm consciência de que a
prisão não reeduca, nem sociabiliza, mas que a convivência dentro dos
presídios só alimenta a revolta inconsequente, aprimora o vínculo com o
banditismo e a violência. Relatam casos de agressões na prisão. Dolores
disse que teve que pagar R$ 800 para que seu filho pudesse ter um espaço
para dormir, e Simone contou a degradação que seu filho, usuário de
crack, passava dentro do presídio, a ponto de sensibilizar o chaveiro,
que a ajudou a transferir o rapaz para a ala de triagem, para que ele
não morresse. O envolvimento dessas mulheres com o sofrimento dos filhos
é tal que, em determinado momento, Dolores diz que as mães sofrem mais
que eles por vê-los em situação de degradação, de humilhação e
desumanidade.
As duas falam que tentaram salvá-los.
Dolores saía de casa de madrugada para buscar o filho em outro bairro.
Ia perambulando pelas ruas até encontrá-lo e levá-lo para casa. Simone
diz que assistia seu filho se consumindo e que convenceu os familiares a
deixá-lo se drogar dentro de casa, para não perdê-lo, e que quase
conseguiu interná-lo numa instituição ligada à igreja evangélica, mas
ele foi preso depois de passar por três triagens da instituição.
Perguntamos como são tratadas nas
visitas. Elas dizem que o público que frequenta os presídios é de 100
mulheres para 10 homens, e que ficam sob o sol escaldante ouvindo
pilhérias dos guardas, que as agridem verbalmente, humilham. Questionam
os biscoitos que elas levam, e dizem que seus filhos, bandidos, não
merecem suas visitas nem os “mimos” que elas levam para eles.
Elas dizem que a droga destrói a
família, que muitas mães se separam de seus companheiros por eles não
aceitarem o envolvimento emocional de suas companheiras com os filhos.
Elas, então, ficam sozinhas, sem apoio de familiares nem do Estado, que
trata o consumo de drogas como caso de polícia e não dá aos usuários
outra alternativa que não seja a cadeia. A política pública para a
juventude no Estado capitalista é quase nenhuma, especialmente para os
jovens usuários de drogas. Não ouvimos falar de construção de abrigos
para jovens vítimas das drogas, nem de política específica que não sejam
a da antiga Febem, hoje com outros nomes, mas com os mesmos
expedientes: maus-tratos, tortura física e mental, apesar das boas
intenções de alguns profissionais.
O consumo de drogas só tem crescido em
nosso país. A indústria da droga procura envolver cada vez mais jovens
com menos idade. É de interesse deste sistema em que vivemos acabar com a
possibilidade de rebeldia da juventude, criando uma geração incapaz de
se rebelar e sublevar contra as injustiças e desigualdades.
É de interesse das mulheres e mães
destruir esse sistema que nos traz sofrimento e dor e construir um
sistema baseado na igualdade e justiça, o socialismo.
Guita Kozmhinsky, Recife
Fonte: http://averdade.org.br/2012/09/as-maes/
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